A viagem até a comunidade "Complexo do Muquico", no norte do Rio, leva cerca de uma hora. Essa área inclui oito favelas, onde vivem mais de 30 mil pessoas. O contraste com o Rio glamouroso e alegre da orla é imenso: o bairro abriga um dos maiores conjuntos habitacionais da América Latina. Jorginho, acompanhado de sua filha Vanessa, guiou Fernando Carro, Paulo Sérgio e a delegação do Bayer 04 por duas das oito favelas. As outras são perigosas demais para visitação. Os encontros com os moradores e suas histórias de vida comoventes foram tão emocionantes quanto o momento com os jovens estudantes do projeto, que farão uma visita de intercâmbio a Leverkusen no outono europeu.
Apesar dos inúmeros desafios enfrentados pela comunidade, o projeto social "Instituto Bola pra Frente" de Jorginho é muito mais que uma esperança: é um verdadeiro farol para as crianças do bairro. E o Bayer 04 se comprometeu a apoiar a instituição no futuro.
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O “Bola pra Frente” é uma organização da sociedade civil que apoia crianças, adolescentes e suas famílias por meio do esporte, cultura e educação, além de oferecer acesso a projetos universitários. O objetivo é promover o desenvolvimento humano como caminho para sair da situação de pobreza. A expressão “Bola pra frente” tem dois significados em português: literalmente, “jogar a bola para frente”, mas também no sentido figurado de “deixar o passado para trás e olhar para frente”.
É uma frase que incentiva a superar dificuldades e manter o foco no que está por vir, com determinação e otimismo. Nenhum lema descreveria melhor esse lugar especial: um refúgio de esperança em meio às dificuldades, com a frase pintada em letras grandes e coloridas nas paredes do campinho.
É nesse lugar que Jorginho cresceu desde os oito anos de idade. Foi ali que perdeu o pai e a irmã, quando tinha apenas onze anos. De pé diante da entrada do Bloco 19, onde fotos não são permitidas, ele relembra: “Eu limpava os corredores aqui para juntar um dinheirinho. Na época, eu morria de medo de fantasmas”, diz ele, sorrindo. “Sempre olhava pela janela e sonhava que um dia haveria uma Disneyland lá embaixo. Era um sonho, meu sonho. E hoje, com o Bola pra Frente, não é mais sonho. É realidade. E é muito mais bonito.” — explica Jorginho, visivelmente emocionado, em alemão fluente.
Segundo ele, o tempo que passou no Bayer 04 teve um enorme papel nessa conquista: “Aprendi muito na Alemanha, especialmente em Leverkusen, e nunca imaginei que um dia pudesse usar isso pela minha terra natal. Eu sou campeão do mundo, mas isso aqui é o troféu mais bonito para mim.”
Na entrada do campo de futebol, uma estátua de aço homenageia Antonio Carlos da Silva Adão, ex-treinador e grande amigo de Jorginho. Ele faleceu em 1977 na Avenida Brasil, que passa logo acima da favela, uma das vias mais movimentadas do Brasil. Era ele quem cuidava do mesmo campo de futebol onde, anos depois, Jorginho construiu sua instituição e a dedicou até hoje a seu amigo. A maioria dos alunos vive sob essa mesma Avenida Brasil, no bairro de Deodoro. “Às vezes, os carros saem da pista e caem sobre os telhados de zinco. E quando chove, além da água, todo o lixo da rua invade as casas”, relata o colaborador Mineiro, caminhando por entre valas estreitas cheias de lixo e roupas penduradas, muitas delas camisas rubro-negras do Flamengo.
Durante o trajeto, inúmeras crianças cumprimentam Jorginho, Vanessa e Mineiro com carinho. Todos os conhecem e os amam ali. Atualmente, o “Bola pra Frente” atende mais de 450 crianças. Já são mais de 15 mil jovens entre 6 e 17 anos formados pelo projeto, e 98% da juventude do Muquiço já foi acompanhada e direcionada a uma vida mais estruturada e cheia de esperança. Quase todos conseguem trabalho, e aqueles que não encontram emprego de imediato, recebem apoio da instituição com currículos e busca por formação profissional. Jorginho não desiste de ninguém.
Atrás de cada uma dessas portas não há apenas uma casa, existem complexos inteiros de ruas. Em um deles, os visitantes de Leverkusen puderam entrar. Ali vive o aluno Samuel, junto com sua mãe. “Recentemente, ele foi diagnosticado com uma doença incurável, que em breve o impedirá de andar e de participar das aulas de esporte”, conta Vanessa, emocionada. “Conseguimos providenciar uma cadeira de rodas para ele e vamos desenvolver um programa alternativo para que ele continue fazendo parte de tudo”, completa a filha de Jorginho com sua maneira sempre positiva.
A poucos metros dali, Iidna cozinha no único forno da favela, que praticamente é utilizado para todos. Ela retira a energia da fiação elétrica que passa acima da sua casa. Em muitos dias, formam-se filas de moradores em frente à sua cabana para que ela esquente a comida deles. Para Iidna, isso é natural. Além do próprio filho, ela adotou outras três crianças, que haviam sido vendidas pelos próprios pais a poucos metros dali. Essa também é a realidade desse bairro tomado por uma pobreza extrema.
São histórias que tornam a visita ainda mais especial, momentos que vão além do futebol. No caminho de volta, mesmo diante de tudo isso, Vanessa ressalta o progresso: “As imagens são comoventes, sim. Mas há também desenvolvimento. Alguns anos atrás, nem sequer tínhamos rua asfaltada aqui. E disso, temos muito orgulho.”
De volta ao Instituto, vários jovens aguardavam por Jorginho, Carro e Sergio. Para eles, há um momento muito especial no horizonte: em setembro, irão viajar para Leverkusen, assim como alguns adolescentes fizeram no ano passado. Sob a liderança de Jorginho, eles visitarão, entre outras atividades, um jogo da equipe principal do Bayer 04.
Tudo isso marca apenas o início de uma parceria duradoura entre o projeto “Bola pra Frente” e o Bayer 04. Sergio incentivou os jovens: “Aproveitem cada segundo, agarrem essa oportunidade para aprender uma nova língua e uma nova cultura. A Alemanha abriu muitas portas para mim naquela época.”
Carro complementou: “A visita de hoje foi profundamente comovente. Nós, como Bayer 04, estamos orgulhosos e gratos pelas experiências que tivemos aqui. O trabalho incansável e o comprometimento de Jorginho e da sua iniciativa são extremamente valiosos e mostram, de forma impressionante, o quanto se pode conquistar mesmo em um ambiente que à primeira vista parece sem esperança.” Como diz o próprio Jorginho: “Bola pra Frente."